
A caracterização de governos latinoamericanos como progressistas ou de direita, vem daí. A liquidação da Alca – Área de Livre Comércio das Americas, que os EUA e o governo FHC tentavam impor ao continente e que foi derrotada com a participação decisiva do governo Lula – e a prioridade das alianças estratégicas com países da região – mediante os processos de integração regional, do Mercosul à Alba, passando pelo Banco do Sul, pela Unasul, pelo Conselho Sulamericano de Defesa, entre outros – e das alianças com o Sul do mundo – de que os Brics são a expressão mais clara – redefiniu o lugar do Brasil no mundo, conquistou mais espaços de soberania para que definamos de forma autônoma nosso destino.
Um governo de direita – como o de FHC e os propostos por Alckmin e por Serra – centrava nossa inserção internacional na aliança subordinada com os EUA e com os países do centro do capitalismo – os que foram colonizadores e agora são imperialistas e globalizadores -, nos distanciando da América Latina e do Sul do mundo – Ásia e África. É a política de um país como o México – cuja eleição, fraudada, do presidente atual, foi saudada por Alckmin na campanha de 2002, com o caminho que desejam para o Brasil e que levou à bancarrota atual daquele país, situação similar à que teríamos, caso tivessem ganho os tucanos naquela oportunidade.
Graças à derrota tucana, nos livramos da Alca, dos Tratados de Livre Comercio com os EUA e de termos atrelado nossa economia aos países que se tornaram os epicentros da crise internacional. Ao contrário, diversificamos nosso comércio exterior com o Sul do mundo – a China se tornou o primeiro parceiro comercial do Brasil, deslocando, pela primeira vez, os EUA dessa posição – e com os países da região.
Essa reinserção internacional é um dos avanços estratégicos que tem que ser considerados prioritariamente pela esquerda, cuja luta por enfraquecer a hegemonia imperial norteamericana e trabalhar por um mundo multipolar, é uma das marcas que a caracteriza como esquerda no período histórico atual.
Quando o candidato tucano fala em sair ou enfraquecer ainda mais o Mercosul – ainda mais quando a Venezuela ingressa -, em terminar com as alianças com o Sul do mundo para restabelecê-las – obrigatoriamente de maneira subordinada e vulnerando nossa soberania – com as potências centrais do capitalismo, não apenas quer restabelecer nossa posição subordinada e de perfil baixo no mundo, mas também retomar as condições da falta de autonomia para nossas políticas internas. Embora queira aparecer como continuidade do governo Lula – sabendo que, eleitoralmente, será derrotado, se aparecer como opositor frontal -, o candidato tucano vai deixando escapar o que realmente pretenderia fazer, caso ganhasse. A inserção internacional do Brasil seria radicalmente reformulada, em detrimento da prioridade de alianças regionais e com o Sul do mundo, vulnerando assim abertamente as condições de soberania, que são condição não apenas da nossa força externa, mas também da nossa autonomia para desenvolver nossas políticas internas.

O governo Lula freou o processo de privatizações – que teria avançado para a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, a Eletrobrás, caso os tucanos seguissem governando -, retomou a temática do desenvolvimento econômico, como central, aliada indissoluvelmente à extensão dos direitos econômicos e sociais da grande maioria dos brasileiros, situados na pobreza e na miséria, retomou o papel central do Estado na indução do crescimento econômico e da distribuição de renda, brecou o processo de privatização da educação, fortalecendo as universidades publicas, entre outras ações, todas na contramão do modelo neoliberal. Fortaleceu direitos, promoveu a desmercantilização, avançou na democratização das nossas relações sociais e econômicas, como nenhum outro governo tinha feito.
São essas duas referências que dão o caráter da candidatura da Dilma para a esquerda: reinserção internacional do Brasil, fortalecendo os processos de integração regional e as alianças com o Sul do mundo, e enfraquecimento do processo de mercantilizacao desenfreada promovido pelos tucanos, fortalecendo os direitos, a esfera pública, o papel regulador e indutor do crescimento e dos direitos sociais do Estado.
Quem se propõe a afetar a soberania do Brasil e a questionar ações centrais para a retomada do tema do desenvolvimento – abolida e substituído pelo do ajuste fiscal pelos tucanos -, tentando desqualificar o PAC, prega o maior retrocesso que o Brasil poderia ter hoje, retomando temas jurásicos como as alianças prioritárias com os EUA, o abandono dos processos de integração regional na America Latina e no Sul do mundo.
Daí a polarização entre o campo progressista e o de direita nas eleições deste ano. Qualquer postura que pregue a anulação das diferenças substanciais entre os dois campos, desconhece a realidade objetiva, tenta fazer passar seus desejos com a realidade, e a ameaça cometer de novo o gravíssimo erro estratégico de fazer o jogo da direita, ao considerar – como fizeram em 2006, que Alckmin e Lula seriam iguais, sem que tenham feito autocrítica, por exemplo, sobre o que seria do Brasil na crise, sob direção tucano-demista – de que em um segundo turno se absteriam. A definição da posição no segundo turno deve ser feita desde hoje – pelos candidatos da extrema esquerda, assim como por Marina -, e revela a inserção de cada candidatura no campo da esquerda ou não.

A vitória do campo popular permitirá impor uma derrota estratégica à direita, mandará para a aposentadoria uma geração de políticos de direita, abrirá espaço para a saída definitiva do modelo neoliberal e a construção de um país democrático, justo, solidário, soberano, ao longo de toda a primeira metade do novo século.
Nenhum comentário:
Postar um comentário