sábado, 13 de março de 2010

A REFORMA POLÍTICA QUE O BRASIL QUER E A JUVENTUDE PRECISA.

Gostaria de compartilhar com vocês artigo do companheiro Leopoldo Vieira, que é consultor para o desenvolvimento de políticas públicas de juventude, autor de A Juventude e a Revolução Democrática e editor do blog Juventude em Pauta!Este artigo foi publicado originalmente no site do Zé Dirceu, na seção Colunistas.

A Câmara dos Deputados, através do seu colégio de líderes, tem a obrigação de retomar a pauta da reforma política, causa central para a juventude do Brasil tomar para si. Construir um regime democrático foi a grande contribuição das gerações anteriores. A da atual geração é aprimorar este regime para torná-lo produtor de uma nação de iguais e economicamente próspera. Além disso, temos 30% da nossa população composta por pessoas entre 15 a 29 anos, um bônus demográfico que, somado à transversalidade das demandas juvenis entre as áreas da administração pública e a manifestação peculiar das opressões de raça, gênero, deficiência física etc sob o guarda-chuva deste grupo social, tornam os jovens centrais e universais para um projeto de país que se possa levar a sério.
Em diversas entrevistas e artigos que escrevi recentemente por ocasião do meu livro A Juventude e a Revolução Democrática, tenho combatido um discurso em voga, manhosamente disseminado pela grande imprensa de que há no Brasil uma juventude avessa à política. Se é verdade que, por um lado, a maioria dos jovens pouco crê nos partidos e nas instituições republicanas, como o Congresso, por exemplo, é também verdadeiro que os jovens, segundo inúmeras pesquisas, acompanham o noticiário, o horário político e se organizam de múltiplas maneiras, principalmente em grupos culturais, religiosos e através de ONGs que praticam o voluntariado. Nesta última seara, a opção preferida é a causa ambiental.
O índice de pessoas na faixa etária de 15 a 29 anos que opta pelo engajamento partidário, nas frentes juvenis, não pode ser tomado como referencial, até porque é um tipo de organização que exige adesão a causas mais sofisticadas e níveis de entrega e disciplina que a própria condição juvenil brasileira impede, pois há a pressão pela procura de empregos, pelo trabalho precoce e pela conciliação difícil e desestimulada entre ocupação profissional e estudo. A própria exclusão educacional e o alto grau de pobreza da juventude são elementos limitadores. De modo geral, nem aqui e nem em outros países do mundo, a proporção entre população e filiação partidária é grande. Contudo, nota-se que as campanhas eleitorais, que no Brasil conseguem atingir um apelo de massas, quase no nível de torcidas, possuem grande contigente de jovens participantes, mesmo que seja conjugando trabalho e eleição ou, caso não, restrinja-se ao período de propaganda política.
Recentemente a MTV, ligada à Editora Abril, a mesma que publica a revista Veja, lançou a campanha dos "tomates", na qual desestimulava os jovens a votarem e a tirarem o primeiro título aos 16 anos. Segundo a infame publicidade, a opção para a juventude era atirar tomares nos políticos. Foi retumbantemente derrotada pelos números recordes de alistamento eleitoral. Então, evidentemente se trata de um mito. A juventude brasileira se organiza, é politizada e gosta de fazer política, o que não significa que isso seja sinônimo de discutí-la em todos os momentos: no bar, na balada etc. Essa é uma idéia deveras errônea de quem acha que ser politizado é saber de cor as datas comemorativas da Revolução Russa.
Mas, esses elementos de contraponto a este mito não respondem à desconfiança e até hostilidade que a maioria dos jovens possuem para com as instituições, parlamentares e partidos, ou seja, naquilo que é a política profissional. Se ela não é única forma de fazer política, na minha opinião é a mais importante, a que decide o jogo de forças entre as classes e grupos sociais e, logo, o problema crucial que precisamos enfrentar, pois a participação da sociedade e da juventude, embrião dos padrões societários, é fundamental numa democracia, caso não se queira que ela se converta num livre mercado de gerenciamento de negócios de meia dúzia de milionários.
Acredito que a explicação disso esteja na combinação entre a condição juvenil terrível marcada pelo signo "menos" e os sucessivos escândalos pautados na mídia que falam permanentemente em compra de votos, caixa 2, privilégios e como se a atividade política profissional, supostamente voltada a sustentar tais acontecimentos, fosse caracterizada por manobras escusas, expressas nas palavras devidamente criminalizadas como "acordos", "conchavos", "estratégias". No terreno fácil e fértil para a manutenção dos seus negócios, a mídia semeia as ideologias de que política é só para políticos (raciocínio “lógico”, pois quem quereria se meter nessa "lama"). Resultado: a juventude cujos sonhos esbarram na própria condição juvenil acredita que, por outro lado, os tais políticos nada fazem para sanar e possibilitar que seus projetos de vida se realizem e, ao invés disso, chafurdam-se neste pântano.
Ocorre que ao mostrar uma política apenas por essa ótica, sem apontar os avanços e compromissos que existem e se desenvolvem nas instituições democráticas, especialmente voltados aos jovens, tais como as dezenas de leis e políticas públicas, a grande imprensa erra, mas o que retrata não é exatamente mentira.
Vivemos em um sistema político-eleitoral onde as campanhas pessoais de milhares de candidatos são caríssimas. Por isso estes dependem de empresas e essas escolhem para financiar aqueles que assumem a defesa de seus interesses que, quase sempre, têm a ver com dividendos para seus negócios operados pelo homem público eventualmente vencedor. Os governos que se elegeram graças a esse tipo de financiamento perseguem possíveis financiadores de opositores, levando-os ao apoio clandestino, dada a impossibilidade se travar uma disputa "para vencer" com parcos recursos. E mais, esses mandatários têm relativa liberdade para decidir como se comportam sem muito se importar com idéias e causas a não ser que queiram, instigando-os ao compromisso não com suas consciências e sim com seus patrocinadores. Esse modelo só pode favorecer a corrupção, o patromonialismo, o clientelismo e a pouca preocupação com o voto consciente e programático.
Por isso, a reforma política que tenha como pontos-chave as listas partidárias fechadas, fidelidade partidária e financiamento público de campanha deve ser abraçada pelos movimentos, entidades e organizações juvenis como método para re-entusiasmar a juventude com a política propriamente dita, pois uma reforma nesse patamar fortalece a ação coletiva ideológica através dos partidos e abole o constrangimento que a propriedade privada impõe à democracia. O que encoraja o engajamento por grandes causas e projetos para o país e para a juventude brasileira, desburocratizando a esfera pública política e socializando sua atividade.
A disputa pelo apoio da juventude é fundamental não só para vencer essa guerra, mas para ganhá-la para a idéia de que a democracia é sim a viabilizadora dos seus sonhos através da conversão de suas bandeiras de luta em políticas públicas e direitos, e que este regime é estratégico para a realização dos seus sonhos. Ganhar essa disputa é central para nossa utopia de construir um Brasil desenvolvido com justiça social pelo investimento na atual geração de jovens. A juventude precisa saber disso, pois ao fazer política profissional na democracia, pautando as demandas do seu grupo social e demarcando legalmente as bandeiras da sociedade civil juvenil, ela é o ápice do que chamamos de protagonismo juvenil.

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