quinta-feira, 6 de agosto de 2009

GOLPE MILITAR EM HONDURAS: UMA REFLEXÃO SOBRE A AMERICA LATINA E SUAS RELAÇÕES COM OS EUA.


Mais de um mês já que foi dado o golpe de Estado em Honduras, e ainda não se chegou a uma solução. Inicialmente, para mim, Honduras era mais uma nação desorganizada, com uma economia frágil, e amplamente dependente da economia norte-americana, como a imensa maioria das nações da América Central e do Sul, e que talvez a retração da economia dos EUA tivesse afetado o equilíbrio de poder das elites hondurenhas, revivendo a tradição de golpes de estado nas nações da América Latina do século XX. Procurando as raízes dos golpes de estado na América Latina da segunda metade do século XX chegamos a uma resposta político-ideológico, devemos enquadrar a maior parte desses fatos ao contexto da Guerra Fria e do bipolarismo que dividia o planeta em duas zonas de influência: uma área de controle submetido à política dos EUA e a segunda sob hegemonia da Ex-URSS. As nações se alinhavam de acordo com os interesses econômicos e a pressão militar. Uma das formas de ação, principalmente dos EUA, na região para trazer ou manter os países sob sua zona de influência era, e continua sendo, o financiamento de determinadas elites, nos países periféricos, para que elas tomassem o poder e controlassem a grande mídia nessas nações, ditando políticas econômicas de subordinação desses países aos norte-americanos. Dessa forma as forças armadas dos EUA atuavam nessas nações sem precisar de uma intervenção militar direta.
Com a queda do “Muro de Berlim” e a nova ordem mundial de forças políticas a justificativa e o inimigo do imperialismo dos EUA mudaram, Ao invés de uma justificativa político-ideológico contra o socialismo, a batalha passou a ser “em prol” de uma justificativa civilizatória-democrática, combatendo o radicalismo religioso islâmico, personificado nos denominados terroristas. Assim foi na invasão do Afeganistão e do Iraque, e nas relações mundiais com o Irã. Porém, um segundo front de luta vem surgindo, deste a eleição de Hugo Chaves na Venezuela. Assumindo o poder no final da década de 90 do século passado, Chaves iniciou uma política de independência econômica, pautada na nacionalização da exploração do petróleo, convertendo os petrodollares em ações sociais e na reorganização das forças armadas venezuelanas. Passou a atuar também, no combate a grande mídia venezuelana, restringindo a atuação de redes de comunicação comprometidas com o capital estrangeiro que formavam a opinião pública de forma viciada e tendenciosa. Reconhecido como líder regional, Chaves passou a financiar campanhas políticas na região andina, exportando sua tese de nação a Bolívia, com Evo Morales, e ao Equador, com Rafael Correa. Por coincidência, ou não, no mesmo período, na América Latina, outras nações elegeram governos politicamente alinhados com a esquerda, assim como Chaves, como o Brasil de Lula e a Argentina dos Kirchners, compondo um bloco independente politicamente na região.
Nos últimos anos, o governo de Honduras chefiado pelo presidente eleito democraticamente Zelaya, contratou uma firma norueguesa de prospecção petrolífera que ao terminar seu trabalho comprovou a existência de uma grande reserva de óleo em território hondurenho, que poderia trazer a autonomia econômica ao país. Até o ano de 2008 a exploração do subsolo em Honduras estava a cargo de empresas multinacionais, no entanto, o governo Zelaya propôs uma mudança constitucional, garantindo a posse de toda e qualquer riqueza encontrada no subsolo hondurenho era de propriedade da nação, assim como é no Brasil. por iniciativa do governo haveria nas eleições presidenciais desse ano uma urna extra, plebiscitária, onde o povo de Honduras decidiria pela convocação ou não de uma Assembléia Nacional Constituinte, que revisaria a Constituição do país, principalmente no tocante a exploração das riquezas naturais de seu país. Foi para combater essa iniciativa que a elite aristocrática hondurenha promoveu o golpe de estado em seu país.justificando sua atitude com a possível alteração constitucional que permitiria a reeleição presidencial, acusando Zelaya de querer se perpetuar no poder.
É interessante notar a atuação do governo norte-americano em relação ao conflito em Honduras. Inicialmente não se pronunciou, não condenou o golpe, mesmo sendo ele de caráter não democrático, contrariando o discurso da política internacional estadunidense e por fim, propondo a mediação ao governo da Costa Rica, que é fortemente influenciado pelo governo dos EUA. É interessante notar, que desde o fim da década passada o preço do petróleo no mercado internacional vem subindo bruscamente, o consumo do mesmo vem aumentando também, as reservas do óleo no EUA vem diminuindo, e desde então, com o governo Bush e agora Obama, as ações militares norte-americanas tem preferencialmente como alvo, regiões produtoras de petróleo, o Oriente Médio, a pretexto civilizatório e a região do Caribe, com a justificativa de combater o narcotráfico. Coincidência ou não, esse ano agora o Governo Obama acertou com o Governo Uribe, da Colômbia, a implementação de 7 bases militares americanas em solo colombiano, dessa forma, as forças armadas norte-americanas terão o poder de cobrir todo o território da América Latina com autonomia de vôo a partir das plataformas instaladas na Colômbia.
É preciso que os Governos latino-americanos se levantem contra o gole em Honduras, restitua o Governo Zelaya, garantindo ao povo de Honduras a posse sobre suas riquezas naturais e impeça a presença militar dos EUA em seus territórios, pois só assim, investindo os recursos oriundos das suas riquezas dentro da própria América Latina é que nossas nações conquistaram a completa hegemonia política e econômica. Enquanto aceitarmos calados a intromissão dos governos norte-americanos em nossa região, continuaremos vendendo bananas.

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